sábado, 19 de maio de 2012

‎"Ele nunca gostou



de livros ou das músicas estranhas que eu costumava escutar, eu percebi isso quando ele mexeu no meu celular na busca interminável por uma música que lhe agradaria os ouvidos. Ele nunca gostou dos meus filmes complexos, pois além dos olhos ele precisariam usar também o cérebro para entender o que o filme realmente queria demonstrar. Ele nunca gostou da cor do meu cabelo, que sempre foi claro demais ou escuro demais. E eu temo que ele nunca tenha gostado da Lua também ou daquela música do Detonautas que tanto me faz lembrar dele. Ele detestava as minhas manias, aquelas de tocar enquanto falo, de repetir as palavras para dar mais enfase e tornar o mundo mais dramático. Sei bem, que ele nunca gostou de andar comigo pelas ruas longas ou estreitas, por eu nunca conseguir andar reto, sempre querer fazer movimentos estranhos, andar de um lado pro outro, cambalear e achar graça em tudo. E eu tenho certeza, que ele vai detestar pra sempre aquela minha blusa de renda que mostra descaradamente o meu sutiã vermelho, que ele gosta tanto de ver em particular. Ele nunca gostou de Fresno, mas tem dias que acorda com Porto Alegre na cabeça, cantarolando a todo instante e pensando incansavelmente em mim. Ele parecia gostar da minha risada engraçada, que parece nunca ter um fim ou das minhas intermináveis crises de ciúmes que vinham sempre à tona em um nova briga. Mas não, ele nunca gostou de dividir atenção e sempre usava o mesmo argumento pra me desarmar. Droga, ele sempre conseguiu me desarmar. Não entendo ele nunca ter gostado da Fantástica Fábrica de Chocolates, mas gostar incansavelmente de Chaves. Ou ele não gostar do meu cabelo preto e gostar das minhas unhas na cor cinza. Nunca entendi a necessidade dele em comer pipoca com leite condensando e correr atrás de mim pela casa com as mãos melecadas. Eu acho que ele nunca gostou da minha mania de entender tudo errado e certo ele, eu também nunca gostei. Nunca gostei daquela mania dele de rir dos meus dedos estranhos, nunca mesmo! Mas sempre gostei da necessidade dele de me fazer sentir bem, como no último Natal que antes mesmo do "Oi" costumeiro, ele me disse: "Você tá linda!". Ele deve gostar de ligações pela madrugada e sms desesperados depois de algumas doses de Tequila e Vodca e se não gostar, eu sinto muito! Ele nunca gostou de ler, nunca gostou de Fresno, da Fantástica Fábrica de Chocolates ou de peixe. Como entender e lidar com alguém que não gosta de peixe? Não sei também, vivo me perguntando isso, quase todos os dias. Ele nunca gostou de demonstrar o que sente ou de falar o que pensa. Acho que ele nunca gostou do amor ou talvez ele goste, mas esteja bem escondido. Talvez ele ame também, ame incondicionalmente e guarde tão bem, assim como ele gosta de rir até chorar e só faz de vez em nunca. Tento entender alguém que gosta de rir tanto a ponto de chorar e não, eu não entendo. Ele gosta de saudade, disso eu sei bem, gosta de fugir de coisas que ele costuma querer e apesar de nunca ter lhe visto beber, sei bem que ele gosta de Whisky e mesmo sem nunca te-lo visto dançar, sei bem que ele gosta de Funk. Gosta também de insistir em coisas que nunca vão dar certo e isso eu já não tento entender. Eu acho que ele nunca gostou de mordidas, de pessoas bêbadas, de rock ou rap romântico. Acho que ele nunca gostou de escrever textos, de contar meses e dias, de esperar um futuro, escolher o nome dos futuros filhos ou de fazer e cumprir promessas. Ou ele nunca gostou de alguém que tenha medo de palhaços, colecionasse cards de super-heróis, fosse apaixonada por futebol, Rodrigo Tavares, fotos, livros e séries estranhas, alguém que gostasse de vídeo-games, que sempre chega atrasada, que reclama demais, que assisti Anime e apesar de toda a idade, vive assistindo desenho animado, gosta de peixe e é incondicionalmente apaixonada por finais felizes. Eu temo que ele nunca tenha achado que poderia sim, gostar de alguém assim como eu, tão errada e cheia de manias pouco entendíveis. Acho que ele nunca gostou de alguém como eu, até me conhecer."

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